Das pedras aos carvalhais


A 23 de Junho realizar-se-á o colóquio da Montis deste ano, sobre a gestão da transição entre o extenso giestal que nos foi entregue no baldio de Carvalhais e futuro carvalhal (ou, mais precisamente, o mosaico de paisagem com carvalhal) que queremos entregar daqui a uns anos.
A Montis tem estado a executar um modelo de gestão dessa transição que precisa de ser testado e avaliado. 
O baldio era no fim de 2016 um giestal quase impenetrável, praticamente sem propágulos de outra vegetação autóctone, para além de uma tímida recuperação de salgueirais nas linhas de água, completamente abafada pelo giestal. Onde não havia giesta havia rocha. Actualmente o cenário não mudou significativamente, mas há trabalho de fundo pouco visível, que esperamos que se torne perceptível nos próximos anos.
Desde essa altura, desenhámos e começámos a executar um Plano de Gestão cujo objectivo, inicialmente centrado nas galerias ripícolas,  é acelerar a evolução para um mosaico que inclua vegetação clímax potencial da área, incluindo carvalhais maduros, ricos em biodiversidade e resilientes ao fogo.
O modelo de actuação da Montis passa por conduzir os processos naturais e promover a sua aceleração considerando sem exclusões todos os elementos e processos que lhe são inerentes: a evolução do solo, o fogo, e a evolução da sucessão ecológica. Tudo isto tem sido construído recorrendo maioritariamente a algo que para nós é central: o voluntariado como forma envolvimento das pessoas comuns na gestão do baldio. 
As intervenções da Montis têm-se focado em abrir espaço para a gestão, utilizando o fogo controlado para reduzir a densidade do giestal e potenciando simultaneamente a retenção de sedimentos para a criação de solo, através de técnicas de retenção do solo e redução da capacidade erosiva da água, para além do aumento do número de propágulos através de sementeira directa, plantações, estacarias e estimulação da comportamento armazenista dos gaios.

Esta é a base do que queremos levar aos participantes do colóquio deste ano: colocar quem tem estado a realizar as acções de gestão a explicar o modelo em todas as suas vertentes. 
Carlos Aguiar do Instituto Politécnico de Bragança fará a introdução ao tema, abordando a evolução das primeiras etapas da sucessão ecológica até ao carvalhal maduro.
António Salgueiro do GIFF – Gestão Integrada de Fogos Florestais, especialista em fogo controlado, que desenvolveu o plano de fogo controlado que a Montis se encontra a executar e executou os dois fogos realizados até ao momento, falará sobre fogo e evolução de sistemas.
Sobre engenharia natural falará Aldo Freitas da Ecosalix, que tem sido uma presença constante na Montis, orientando na teoria e na prática os workshops que temos realizado no baldio de Carvalhais.
Avelino Rego apresentará o projecto dos baldios de Alvadia, que tem por base potenciar a gestão dessa área recorrendo a um modelo que concilia conservação da natureza, pastoreio e fogo controlado.
A Mossy Earth tem sido parceira da Montis com um programa destinado a alavancar recursos para a gestão do baldio, nomeadamente para a plantação de árvores, e muito recentemente com um programa que permitirá o “apadrinhamento” de áreas de gestão, e irá apresentar o seu modelo.
A Montis apresentará o seu modelo de gestão, incluindo as vertentes do envolvimento e a estimulação do crescimento do carvalhal, permitindo uma discussão sobre os resultados obtidos até agora.
Da parte da tarde será feita uma visita ao terreno para que se possam ver as intervenções realizadas e discutir no local as opções tomadas até agora e as perspectivas que existem para o futuro.
Na base da nossa gestão está o fazer primeiro, avaliar de seguida e por fim o aprender com os resultados de forma a reajustar ou não a direcção das acções. Este modelo tem algumas desvantagens, sobretudo porque abre margem para erros, mas abre portas para a  experimentação sem preconceitos e à integração de perspectivas que em outros contextos poderão ser menos entendidas.
Não temos a certeza sobre se esta é a melhor forma de alcançar o que pretendemos. O que é certo é que estamos a experimentar e a aprender, o que nos trará conhecimento e factos concretos para que possamos dizer se esta é ou não uma opção viável, e com que ajustes.
Estamos num ponto crucial para esta reflexão porque já é possível olhar criticamente para o trabalho feito e extrair algumas reflexões, mesmo não tendo ainda passado tempo suficiente para conclusões sólidas.
Neste momento há matéria para se discutir e espaço para integrar visões e ajustar opções.
É isso que se pretende com o colóquio: apresentar o trabalho feito no baldio de Carvalhais, reflectir sobre ele e discutir resultados, o modelo, as alternativas e as opções possíveis.


Jóni Vieira

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